terça-feira, 2 de março de 2010

Os símbolos da cidade

Os símbolos arquitetônicos de Recife tão sendo demolidos. Isso me assuta.
Já fazia tempo que o Hotel Boa Viagem, que era do lado do prédio do meu pai, tava interditado e ia ser demolido. Mas daí pra ver ele demolido é outra coisa!
u lembro como se fosse hoje quando eu voltei da Inglaterra, no primeiro ano eu acho. Meu pai foi me buscar de carro no aeroporto. Quando a gente tava chengado em casa, eu olhei pro hotel e vi que boa parte dele tinha sido simplesmente arrasada, quebrada.
Me deu uma vontade de chorar tão grande, era como se tivessem apagado um pedaço da minha memória. Eu fiquei com um nó na garganta e só não chorei pq tava no carro com meu pai.

Aqui na Zona Norte, demoliram o hospício da 17 de Agosto pra fazer um Carrefour! Meu deus que atentado. No Hotel Boa Viagem, pelo menos foi pra construir (mais) duas torres gigantes e bonitas ao menos. Mas um Carrefour é foda.
E do outro lado da rua, uma dessas casas de festa de criança praticamente destruiu uma casa em estilo colonial pra botar um monte de luzinhas e merdinhas na frente. Um atentado. Por sinal, essas casas de festa de criança são uma praga, vão ser a moda da década de 2010, como as lojas de tudo dois eram moda na década de 90 (ahhh, aquilo é que foi década, dali em diante foi ladeira abaixo). Em Casa Forte, construíram umas 5 dessas uma depois da outra, não sabia que tinha tanta criança rica pra fazer festa o tempo todo.
Acho isso tão fútil. Quando eu era pequeno eu até gostava de festas, faziam festas pra mim. Me lembro de uma no prédio do meu pai e tem as filmagens de outra que foi no Belo Bambino (minha creche). Também teve uma quando eu era bebezinho que o bolo era de palhaço :D.
Bem, só tenho uma lembrança muito vaga da festa que foi no apartamente do meu pai em Boa Viagem. Sei que me deu alguma coisa quando eu vi a sala cheia de gente e de convidade e eu decidi que não queria mais festa pra mim. E nunca mais fiz uma festa. Acho que tive um pânico social quando eu vi tantas pessoas - lembro que não me sentido bem e fiquei com agonia no peito, não lembro o que aconteceu depois.
Acho que eu tinha uns 6 anos (pois é, minha anti-sociabilidade é quase de nascença).

Ah, sim, o objetivo desse post não é falar das minhas festas de criança. Foi pra falar agora que vão fazer uma bosta de um shopping na Tamarineira. Né uó? Desculpa, mas apesar de eu nunca ter estado lá, só a visão daquela casa rosinha, a menção do nome "Tamarineira", aquelas árvores num lugar tão sem espaço verde e - principalmente - o pitoresco que é aquilo ser um manicômio (eu sei, o nome não é adequado, mãs...), isso tudo me faz ter muito apreço por aquilo. E agora vão construir uma bosta de um shopping. No mínimo vão botar um multiplex com a mesma programação do Plaza e vão fuder o trânsito na região. Nossa que horrível, que atentado à minha infância e minhas lembranças de Recife.
Quando eu for grande, vou ter que dizer para os meus filhos como era o hospício que tinha na Arraial, onde agora é "o shopping da Tamarineira". Acho que vou fazer um registro fotográfico de lá antes que seja destruído! Nossa que idéia boa, pena que eu não tenha minha câmera aqui, que ela vá demorar 5 meses pra chegar, que eu não sei quando começam as obras e que minhas idéias ousadas nunca evoluem de... idéias ousadas pra ações ousadas.

Às vezes eu sinto uma necessidade mortal de registrar toda a cidade antes que a destruam. Eu tenho medo de que apaguem tudo e eu mal consiga lembrar.

Minha mãe e minhas tias moravam num sítio no interior onde tinha um moinho. Um dia ela foi atras do sítio pra procurar o moinho. Quando chegou lá, o sítio tinha sido dividido entre várias outras pessoas, os terrenos eram bem menores, e o moinho tinha sido demolido. Ela teve uma crise de choro, e disse que pra ela era como se tivessem passado uma borracha no passado dela.
Ela conversou com o homem que morava no terreno onde ficava o moinho. Ele deu água pra ela e, conversando, ele disse que toda vez vinha um senhor num cross fox que sentava debaixo de uma árvore e ficava comendo fruta.
Quem tem um cross fox é meu avô. Não acho que são muitas as possibilidades de outra pessoa com um cross fox e que goste de ficar debaixo de uma árvore comendo frutas tenha ido parar logo no lugar onde meu avô morou.

Marcelinha me disse hoje que ainda querem fazer um shopping na antiga fábrica da Torre - que ficou imortalizada na minha memória como a fábrica onde Iara trabalhou e onde explodiou a caldeira. Bem, essa demolição não me ofende muito, pq aquela área mesmo nunca fez parte da minha vida. Pra mim era só uma fábrica abandonada e uma chaminé charmosa. Queria que conservassem a chaminé.

O Casarão dos Latache foi alugado (ou vendido, não sei) à uma empresa de advocacia. Pra quem não sabe, é o casarão que fica em frente à Mater Christi. Minha memória é falha, mas eu acho que ele está pintado de amarelo.
Se eu não me engano, é um patrimônio tombado. Mas todo mundo sabe como qualquer coisa é tratada aqui no Brasil. Não sei se eles vão conservar. Estão fazendo reformas dentro, rezo pra que não sejam invasivas. No exterior acho que eles não vão fazer nada demais.
Minha mãe já entrou lá. Segundo ela, a dona da casa ainda mora lá. Depois de morta. Ela disse que ela chorava muito enquanto tiravam os móveis de jacarandá de dentro da casa, quando deixaram de morar lá. Bem, não sei direito a história.
Minha mãe fez a iluminação de Natal da casa num ano. Disse que a dona ficava arranjando problemas pra ela o tempo todo (a dona morta, eu digo, não os filhos vivos dela que são os donos legais), até que ela rezou pra ela e aí ela parou de atrapalhar. Se não me engano, minha mãe atribui problemas como a iluminação que queima ou uma peça que quebrou enquanto era carregada na escada (alguém levou um tombo, não sei se foi ela) à essa senhora. Bem, minha mãe é suspeita pra falar, de qualquer modo.

Tá, era só isso. Quero deixar registrado meu medo que a minha cidade desapareça sem eu ter registrado e que eu não concordo com o fim da Tamarineira. Meu Deus, o que Osman Lins deve estar pensando disso? Ele escreveu A Rainha dos Cárceres da Grécia, que é a história de uma louca internada na Tamarineira e que, segundo a Internet, é um dos livros mais importante em termos de construção formal. Osman Lins é difícil de achar aqui, apesar de ser um escritor importantíssimo. A única edição fácil de achar dele é "Melhores Contos", que foi feita depois da morte dele. Os romances e os livros publicados em vida são escassos e caros. Coitado, acho que ele a Tamarineira tem destinos parecidos.
Seja o que Deus quiser.

Granaaa!!!! - De grana, sonhos e ânsias

Pois é, começo de mês é tudo de bom!
Meu dinheirinho suado chegou. Vou matar minha saudade do escurinho do cinema. Vou comprar pra minha Vó uma revistinha Coquetel daquelas grossinhas só de caça-palavras (ela adora). Vou comer um sanduíche da subway, cheio de molho à base de parmesão e pimenta do reino - e dos grandes, não o da metade. Vou ver A Fita Branca e As Ervas Daninhas.
Também vou pagar esse mês uma caixa de transporte que minha irmã encomendou de São Paulo, pra eu poder botar Barney dentro pra levar ele pro veterinário. 200 paus T.T. Mas é importante pq eu tenho que ir a pé até o veterinário e é EXTREMAMENTE cansativo. Além do mais eu vou poder usar a caixa pra levar Perdida pro veterinário.
Perdida é uma cadelinha muito bonitinha que mora aqui perto, na minha rua :) Ela é minha amiga, mas ela não é perdida, ela mora numa oficina. Só que lá não cuidam muito bem dela: não dão banho, deixam a bichinha se sujar de óleo e dão comida de panela. Agora a bichinha tá com um problema de pele nas costas, e como eu não suporto ver aquilo (e o dono dela não vai levar ela no veterinário), eu vou levar a bichinha pra tratar. Ou seja: vou ter que pagar veterinários e remédios, mas fazer o quê? Ah! e vou ver se consigo fazer esterectomia na bichinha, parece que eu consigo numa ONG por R$ 60,00! Ela já teve duas ninhadas, mas não é bom ela ficar emprenhando o tempo inteiro! E ela fica o tempo todo na rua, quando ela tá no cio é só dar.

Bem, acho que são esses meus sonhos de consumo neste mês :) O orçamento da minha câmera fechou em R$ 1.000,00. 30% antes e o resto depois. Vou falar com meu pai amanhã pra me emprestar 300 e ir descontando de 75 em 75, algo assim. Não sei se ele vai deixar.

Dia 8 é primeiro dia de faculdade! Nossa, que meda. Estou me imaginando no meio de um monte de gente alternativa.
Diálogo imaginário:
"E aí, qual o teu nome?"
"Igor, e o teu?"
"Carlos. Tu viessa da onde?"
"Mater Christi"
"Eiiita, colégio de alteeeerna, bate aqui! - Tu quer ir pro Bigode beber hoje depois da aula?"

Bem, quem me conhece sabe que eu não sou uma pessoa sociável e que eu não tenho habilidades comunicativas bem desenvolvidas. Em compensação, Deus me deu habilidades para ser o centro das atenções. Acho que meu histórico de alta notabilidade em meus ambientes sociais em precede. Eu só reeeezo pra que nessa nova etapa (e que vai durar 5 anos, meu pai do céu) eu consigo passar minimamente desapercebido. Se eu conseguir resistir só até o final do segundo período já tava bom. Principalmente evitando a guerra de olhares. Nossa, odeio olhares.

Acho que vou pro Conservatório! Estudar violino! Né mara? Consegui o número de uma professora de lá que dá aula particular. Conversei com ela e gostei. O preço tá bom, falta agora convencer meu pai (a parte mais difícil). Essa tarefa vou deixar pra minha mãe. Ela disse que eu posso conseguir entrar no conservatório já em Julho. Né demais?
E também vou tentar fazer o Inglês com um professor particular britânico, Cameron. Mas a gente ainda não conversou sobre preço e provas, etc. O homem tá fugindo de mim, não consigo falar com ele nunca pelo telefone. Vou passar lá no IPB - o curso dele.
Ah! e esse ano eu vou dar o Delf B2 em Julho e o Dalf C2 em Dezembro. São as provas de Francês. O C2 é o mais avançado, aí se eu passar eu termino o Francês e vou estudar Espanhol :)
Pois é, muitos sonhos né? Por sinal, remarquei meu horário com a psicanalista pra quarta às 18h, pq à tarde eu nunca ia poder por causa da fac. Mas eu me confundi: eu achava que a eletiva da noite que eu queria fazer (Antonioni e Bergman) era na terça, mas é na quarta. Tenho que ligar pra ela e remarcar pra terça.

Estou chocaaaaaado com o Conservatório. Meu deus, tá muito lindo! Organizadééérrimo, limpíssimo, belíssimo, nem parece algo público! Parece campus de uma universidade privada de qualidade. Tá tudo tão ajeitadinho que eu não consigo parar de me impressionar. Nossa, vai dar gosto estudar lá!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sem câmera

Minha câmera chegou em São Paulo.
O problemas que ela tinha: manchas na foto que não saíam limpando as lentes; aparecia a mensagem de Err (erro) quando eu fotograva com f-stops altos; aparecia Off de uma hora para outra, a mensagem nem existe no manual, demora um tempão pra ela voltar a funcionar; bateria não tá pegando; teve um defeito com o diafragma que não mudava direito, e ia ficando cada vez mais escuro, mas deu certo.

Resultado: as manchas não são poeiras, são fungos, que não se consegue mais limpar completamente, tem que comprar outro CCD, mil reais. Problema no diafragma: 250. Trabalho do técnico: 350.
Não me explicaram se trocando o CCD e o diafragma acabariam as messagens de erro (acho que sim) e off (não sei).
Não tenho dinheiro pra nada.
A bateria está sem conserto, tenho que comprar outra, uns 50.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Sonho

Fui dormir hoje, dia 7, às 3h30, mais ou menos. Fiquei lendo La Tregua, que é ótimo, até tarde na frente do computador, pra poder pesquisar as palavras que eu não sabia.

Tive um sonho estranhíssimo. Acho que ele começa assim:

Três moças jovens estão numa estação de trem, querendo embarcar clandestinamente da Alemanha (se eu não me engano, elas eram alemãs) para a Áustria, para fugir do nazismo (elas eram judias, mas não sei porque inventariam de fugir do nazismo indo pra Áustria!). Eram três, me lembro perfeitamente de que pareciam ter vinte e poucos anos. E acho que elas falavam Português entre si. Vestiam roupas que não pareciam ser da década de 40 ou 30, parecia algo mais de 20, só que meio exagerado, com pena na cabeça e tudo.

Bem, elas estavam correndo, tentando evitar guardas, e dão de cara com três guardas russas (não sei porque eram russas numa estação alemã), vestidas com um uniforme engraçado preto com detalhes em prata (parecia algo meio oriental), que ficavam pedindo os bilhetes e que claramente não as deixariam entrar. Eram todas loiras. (Acho que elas não conseguiram os documentos para sair do país porque eram judias).
As três mulheres não tinham visto as guardas por causa da multidão, parecia que tinham surgido do nada. Uma das judias, loira de cabelo curto, fala "Ah, uma guarda russa, outra guarda russa... e outra guarda russa!", à medida que ia enxergando cada uma delas. Ao ver a última, estava tão surpresa que eu consegui ouvir a platéia rindo, como se fosse um seriado americano.

Elas ficaram na frente das guardas por um instante, sem saber direito o que fazer, acho que pensando. Chega um rapaz loiro, vestido com uma roupa antiquada também (tinha suspensórios em cima de uma camisa branca e uma calça marrom) e a mesma idade que elas, e começa a conversar com a loira, em Inglês, para que as russas não entendessem. Não lembro o que eles falam, mas parece que ele entende que elas eram judias querendo fugir do país e dá algum tipo de dica de como driblar a vigilância.

Não sei o que acontece na estação depois disso, acho que não acontece mais nada e eu sou levado para a segunda parte do sonho. Estou num barco viking1 daqueles de parque de diversões, que vai pra cima e pra baixo. Estou em Paris, é de noite, e no barco as pessoas estão todas vestidas como se fosse 1880-90, as mulheres com chapéus e saias enormes, no barco que ficava quase na horizontal2.


Era tudo parte de um espetáculo: os espectadores ficavam no barco balançante enquanto observavam uma apresentação maluca. Um grupo de dançarinos, vestidos com alguma coisa luminosa, formavam desenhos coloridos e luminosos, em uma estrutura que ficava rodando, como as pás de um moinho, mas que são andaimes onde ficam os dançarinos, se equilibrando sem cair nem deixar o desenho feio3. O desenho que eles formavam era de algum ser completamente preto, parecia um demônio, com algumas coisas vermelhas e verdes, imerso numa luz amarela forte em volta de si.
O quadro todo me lembrou muito claramente um poster de Toulouse-Lautrec sobre o Moulin Rouge, e acho que a apresentação era feita nas pás do moinho do Moulin Rouge. Eu estava morrendo de medo, tanto pelos atores se equilibrando quanto por mim mesmo naquele barco maluco. Lembro que eu ficava tão assustado que ficava apertando a mão de alguém do meu lado; mas não conseguia me ver dentro do barco, só sentir a sensação. Não sabia de quem era a mão que eu estava apertando.
Depois que o espetáculo terminou, eu vejo uma espécie de caminhão, levando um monte de areia, indo para algum lugar deserto deixar a carga.

Ainda estamos na França. Quando ele deixa sair a areia, vem alguém com uma pá ajudar a tirar duas pessoas que estavam lá. Do meio da areia saem duas das três garotas que estavam na estação, agora com as roupas também da década de 80-90 do século retrasado. Uma delas tem a pele meio morena e os cabelos escuros encaracolados. Depois que elas saem com as longas saias da areia, a morena pergunta onde está a terceira delas, a loira. A outra diz que acha que ela ficou para trás, quando parou por um momento para ver alguma coisa.

Nesse momento eu tenho um flashback: acho que isso se passa na estação, vejo a loira que ficou para trás parando na beira de um terminal onde passam trens para observar algo bonito, acho que animaisinhos, meios brancos, luminosos e bem bonitinhos. Pareciam pedaços de algodão flutuante, com olhos e boca e um semblante feliz. Não sei depois o que acontece, acho que a pegam4.


Não consigo me lembrar direito mais nada depois disso. Sei que ainda tem outro sonho, com outros personagens, muito parecido, mas eu não consigo entender direito.

Eu sei que tem uma família judia que também está fugindo do nazismo, mas numa época muito mais recente, bem depois da década de 40. Talvez seja 80. Essa parte é muito confusa, esqueci a maior parte.

Não sei de que país eles estavam fugindo, nem pra onde eles foram. Sei que no meio da família (acredito que havia mais gente), estava eu e uma mulher que na história era minha mãe. Não sei como a gente se perde, acho que na estação.
Aí eu passo um tempo vivendo como órfão no novo país, não sei como5. Acho que não tinha muito dinheiro. De algum modo, descobri que minha mãe estava vivendo num apartamento em algum canto, e eu achei onde era. Eu ia lá e falava alguma coisa com a empregada (eram duas, uma jovem e outra mais velha; a jovem era a cara da empregada da casa de Betina na novela das 8, hahaha).

Depois parece que eu queria voltar lá pra encontrar minha mãe mas ficava sempre com vergonha e não queria dizer que eu era filho dela pra empregada, acho que queria descobrir primeiro se ela realmente morava lá. Acho que fui lá outras vezes mas não tinha coragem de bater na porta. Um dia toquei a campanhia, a empregada abriu a porta da cozinha e me deu cinco reais. Eu fiquei sem entender porque e ela me explicou qualquer coisa e tive uma lembrança vaga que da outra vez eu tinha emprestado ou trocado dinheiro pra ela e faltou ela me dar cinco reais (parece que eu tinha dado 20 reais em troca de 15, algo assim)6.

Depois que ela me dá o dinheiro, a minha mãe no sonho aparece na porta da cozinha e fala alguma coisa pras empregadas. Era ela mesmo, só que mais velha. Aí eu fico na frente dela pra ela me reconhecer, mas elas só fica com um rosto estranho. Aí eu falei que era filho dela mas ela me disse que ja tinha reconhecido e chora. Acho que depois dali a gente tenta voltar pro país natal, não lembro qual; sei que dessa vez era de avião. Acho que estávamos na Dinamarca, ou algo assim. Nessa parte eu também era judeu, e era a única parte na que eu era um personagem também.

Uma terceira parte do sonho tem uma jovem loira, no tempo atual, que queria embarcar de volta pro país natal, mas não tinha dinheiro para a passagem. Ela se veste de aeromoça e tenta entrar disfarçada mas no avião mais não funciona. Era uma jovem loira diferente das outras que tinham aparecido na história, mas também era judia, e acho que tinha fugido do seu país por causa disso.

Acho que a levam para falar com o gerente do aeroporto7. Ele lhe diz que não pode permitir que entre no avião. Ela, ainda vestida de aeromoça, deixa de implorar e lhe fala que não tem dinheiro pra pagar a passagem e que queria entrar no avião.
O aeroporto era todo em vidro e, do lado de fora da sala do gerente, eles podiam ver uma tripulação subindo uma escada rolante, indo em direção ao avião que os levaria ao mesmo país para onde a loira queria ir. Ela diz para o gerente que eles já estavam indo.

No meio da tripulação, há alguns com barbas e kipahs8 bem judeus.
O gerente dá um riso de condescendência e diz-lhe que vá logo. Ela pega o chapéu ou o casaco de aeromoça, não lembro, que havia deixado em cima do sofá, e sai correndo, feliz, para a escada rolante, enquanto o gerente anota algum tipo de permissão sobre a ida dela numa ata.

Na escada rolante, um homem que fiscalizava quem subia a escada e que também era judeu, também sorri e deixa ela passar, e ela sobe a escada. Aí termina.

Acordei de 14h30 hoje. Eu queria ter ido dormir mais cedo ontem, mas não consegui.



1 - Lembro que andei num barco viking nos Estados Unidos em julho de 2008 e foi macabro, só faltei morrer.
2 - As roupas, e o amarelo forte de luz que eu falei, lembram esse cartaz de Toulouse, por exemplo.
3 - Lembro que já vi alguma apresentação do Cirque du Soleil que tinha um dançarino que ficava pulando em cima de uma estrutura que rodava; esse espetáculo me lembrou isso também, mas era completamente diferente. Gilmar me pediu para gravar um DVD do Cirque du Soleil mas eu não consegui.
4 - Nos Estados Unidos, na mesma viagem do barco viking, que foi quando eu fui estudar cinema, eu acabei ficando para trás no metrô quando estávamos voltando de um museu. Eu me lembrei daquilo na noite anterior ao sonho porque tava olhando um cartão postal que tinha comprado no museu. E também adoro parar para brincar com animais no meio da rua.
5 - Em La Tregua, antes de dormir, eu li uma parte que um personagem conversava com o patrão, dizendo-lhe que era órfão.
6 - Antes de dormir eu estava conversando com Diego sobre um dinheiro que eu tava devendo a ele.
7 - O gerente me lembrava um personagem de um episódio de "Twilight Zon" que eu vi na Internet à noite. Era da década de 50 ou 60 eu acho.
8 - Lembro que antes de dormir eu estava pensando em kipahs. Uma amiga minha chamava de "cuinha".

No geral, também lembro que antes de dormir eu tinha pesquisado muito sobre o Relátio Goldstone sobre o conflito entre Hammas e Israel em Gaza e sobre a parcialidade do Conselho de Direitos Humanos da ONU em relação a Israel, que mudou muito minha postura em relação ao país (antes eu achava que era um país horrível e péssimo).
Também lembro que, lembrando da viagem pros EUA, eu lembrei dos alemães que tinha encontrado lá. Tinha um alemão que ficava num quarto em frente ao meu e tinha um americano descendente de alemães que era cineasta.
Ah, e também acho que a loira que queria embarcar no avião lembrava muito a personagem Marsha White, a protagonista do episódio que eu vi de Twilight Zone. Ela era branca, loira, com o cabelo preso atrás. O formato do rosto se parecia e as roupas também: Marsha (a atriz Anne Francis) usava uma camisa branca e uma saia justa preta, até acima dos joelhos. A loira, depois que tira o casaco e o chapéu na sala do diretor, fica também com uma camisa branca e uma saia justa azul escura. Como o episódio era preto-e-branco, a saia podia ser marrom ou outra cor.
Acho que são essas todas as coisas às quais meu sonho faz referência.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Pas d'argent

Esse mês tá foda. Recebi a grana de feveireiro no dia 28 de janeiro, se não me engano; foi a última quinta de janeiro. Já tava doido pela grana porque precisava pagar um monte de coisa. O mês mal começou e fiquei pobre já, sendo que a única coisa realmente "para mim" na qual eu gastei dinheiro foi um livro lindo de capa dura com a obra completa de Lewis Carrol en original - só tinha um e não dava para perder!
O dinheirinho que eu tenho aqui tá contado, só vai dar pra pagar um exame próxima semana (porque meu pai me manda pagar os exames/médicos que o plano não cobre e só dá o dinheiro de volta no final do mês) e sobrar um pouquinho de nada, acho que não dá nem quatro reais de sobra. Tá foda, não tenho nem pra ir prum cineminha nem jogar hóquei de mesa no Game Station. Só tenho dinheiro mesmo no VEM.

Eu queria pagar sem problemas o conserto da minha câmera, que chega na assistência Nikon, em São Paulo, entre o dia 10 e 12. (Tenho muito medo de saber quanto é). Como a minha única bateria pifou um dia antes da viagem para a Argentina, em janeiro, tenho que comprar uma nova, vou comprar logo duas pra quando uma acabar eu deixo carregando e uso a outra. Achei na internet um cara que fazia, já com frete, 85 as duas.
Queria um tripé. O único tripé que eu tenho comprei na época da minha câmera filmadora, na sexta série, deixa eu contar... lá por 2004! Ela já era meio troncha e depois que eu comecei a usar bem muito, os pés simplesmente descolaram e eu tinha que fazer umas engenharias com palito pra não ficar com um "bipé" ou um "unipé", até que consegui colar com superbond. Tá tronchíssimo. Nem sei quando é um tripé.
Queria material de limpeza: um detergente de lentes de qualidade, um pincel ultra-fino pra limpar, uma bombinha de ar e tecido para limpar lentes - nem sei direito onde encontro isso.
Queria um filtro polarizador circular, deve ser uns 100. Minhas fotos iriam ficar muito melhores, mais je n'ai pas d'argent.
Queria também uns livros sobre fotografia pra ficar bem fodão: The History of Photograhy, 20th Century Photography e Photo Icons, todos da Taschen, consigo por uns 130 pela Amazon, mas isso quando o dólar tava em conta (vou esperar a próxima crise, a última foi em 1929, então deve haver outra lá por 2089). Também queria The Camera e The Negative, de Ansel Adams. E algum livro muito bom ensinando como mexer no photoshop.
Um dia eu penso em comprar lentes, mas os preços são obscenos pra que eu sequer pense em procurá-los agora.

Queria comprar a coleção completa do Petit Nicolas em Francês. São uns seis livros eu acho, não devem ser caros, deixa eu ver na Cultura... ... só encontrei um, deixa pra lá.

Queria simplesmente ter dinheiro o suficiente pra ir comer no La Plage sem contar migalha, ou passar na Subway sem ter que me controlar. Comi um sanduíche maravihoso dia 2, foi só 7,70, valia cada centavo, mas fez um desfalque danado. Faz uns dois anos que eu comi no La Plage e até hoje não voltei.

Queria comprar mais ímãs pra segurar as fotos do meu painel. Toda vez eu boto o ventilador e voa tudo porque tem pouco ímã. São 1 real uns ímãs ótimos e bonitinhos na Mon Papier.

Queria tá podendo encher o saco de alguém pra ir pro Plaza jogar hóquei de mesa milhares de vezes. Nem tenho um cartão da Game, quando tiver grana eu vou fazer.

Queria ter grana pra poder comprar uma promoção de tickets da Classic, que sai muito mais em conta que pegar um filme individual. A melhor promoção, da última vez que eu fui, era a de 120 reais.

Queria ter dinheiro pra poder me associar ao Greepeace. Eu vou me associar ao MP Colina próximo mês, apesar de ficar apertado, são só 15, dá pra aguentar.

Esse mês tá tão foda que eu simplesmente não vou ver Nine, nem Coco avant Channel, nem o filme sobre Glauber na Fundação e nenhum outro filme, na verdade.

Queria ter dinheiro pra comprar uma caminha pra Barninho. Tou há um século pedindo pra minha mãe fazer uma com o que ela tiver no galpão e ela não faz. Bichinho, tenho pena de deixar ele dormindo no chão - apesar dele dormir no sofá.
Também queria uma caixa de transporte pra ele porque é muito cansativo ir à pé ("à pé" tem crase?) até o veterinário dele, saindo daqui de Casa Amarela. É como andar a Encanamento inteira. Ele é muito agitado e ninguém quer levar ele no carro, mas as vezes mainha leva.

Queria ter grana pra fazer meu bendito minhocário. Encontrei pra vender um por quase duzentos reais, o que é inviável. Só precisava comprar umas 3 caixas de plástico opaco, tipo contâiner, uma torneirinha, e montar tudo usando aquela maquininha de rodar com várias ferramentas que mainha tem.
Também queria comprar lixeiros aqui pra casa, que a gente tá precisando, e também pra poder fazer coleta seletiva.

Queria comprar outra peça de blecaute pra minha janela, porque a luminosidade me perturba de manhã. São uns 15 reais. E também um maçarico pra poder derreter a cera de lacrar carta. Ah! e revelar umas fotos na Fotovarela. Ah! e um álbum. Mas isso nem é importante agora.

Ah, claro, fora isso eu queria comprar todos os livros do mundo :)



Mas, comme je n'ai pas d'argent, não dá pra fazer nada disso, nem esse mês e dificilmente no próximo.
Melhor estudar Francês.
"Un homme, des hommes..."

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"Eu" e dona C (3º encontro) - Parte 2

Eu segui dona C pra dentro de casa. A casa dela era desorganizada e tinha gatos e gatinhos novos bonitos. Mas eu gosto mesmo é de cachorro, então não passei a mão neles (mesmo porque a mãe tava do lado e eu não confio em gatos). Lembro de ter visto santos barrocos.
Ela foi para algum lugar falar com a empregada, acho, e fiquei só por um tempo. Depois ela voltou com uma boina preta na cabeça e fomos para o lado de fora, na lateral, onde havia uma kombi branca estacionada. Ficamos esperando Aninha (a escrava) chegar.
Óh céus, o que é que eu vou encontrar lá?, pensei.
"A gente antes vai num canto porque eu quero ver se ganhei no bicho"
Ela joga no bicho? Depois meu tique no cabelo é que é um vício depreciável -.-".
Esperamos um bom tempo Aninha chega, durante o qual foram poucos os segundos que ela não ficava gritando por Aninha. Num desses silêncios, ela deu uma cuspida no chão - e eu tive vontade de lhe dizer que as pessoas "vão lhe depreciar" se fizer isso.
Aninha chegou com uma sacola mas dona C tirou uma garrafa que tinha na sacola e disse que não precisava de sacola, que guardasse para quando fosse necessário. A garrafa era tipo pet e estava cheia com alguma gororoba que me parecia um remédio caseiro; era verde-planta e muito pastoso, duvido muito que alguém tivesse coragem de comer aquilo.
Dona C ficou reclamando que não conseguia abrir a porta, que voltou do conserto pior do que antes, e que agora só abria por dentro. Aninha entrou no carro pelo outro lado e abriu a porta.
Entramos e estava um forno. Eu não tinha nada pra dizer e ficava só rezando pra não me levarem pra algum lugar distante onde eu tivesse que andar bem muito pra pegar um ônibus de volta.
No caminho, ela explicou pra Aninha que tinha que ver o resultado do jogo do bicho em algum lugar. Passamos por algumas ruas que não eram longe da rua da Harmonia. Numa delas, o carro parou e eu perguntei se era pra descer, mas ela disse que não, que ia só ver o resultado do jogo do bicho.
Ela saiu do carro e bateu palma na frente de uma casa. Uma senhora velha e magra saiu e elas passaram um bom tempo conversando e eu fiquei no calor dentro do carro. Eu vi que ela entregou a garrafa com gororoba para a senhora e parecia falar sobre ela. Depois de muito tempo, ela voltou (não sei se ganhou ou não, acho que não). Depois continuamos viagem.
Chegamos até uma casa na estrada do Arraial e ela disse que era lá. Ela nem precisou descer do carro, a filha dela já estava lá. Ela tinha cabelo preto e o rosto com linhas muito profundas, parecia bem mais velha do que eu imaginava.
A filha chegou pra perto do carro e eu tive com ela a conversa de praxe sobre a viagem pra Argeitna, o que foi um saco. Ela fez aquela típica viagem de turista: conheceu a rua Florida e viu aquele showzinho de Tango. Além do mais padecia do mesmo problema crônico que eu: quando não sabia o que dizer perguntava a primeira coisa, que geralmente era uma pergunta que ela já tinha feito. Nossa, eu acho que eu tenho complexo de superioridade, porque eu sempre sinto uma ponta (grande) de desprezo por essa gente que faz turismo estúpido -.-'.
Dona C queria um dinheiro que a filha tinha que lhe entregar para que ela fosse ao banco. Então, depois de um pouco de conversa ela foi para dentro de casa e eu esperei no carro. Elas voltaram e eu a filha continuamos a conversar pela janela do carro (as mesmas coisas).
Enquanto isso, a coitada da dona C não parava de falar pra filha que precisava ir embora, mas ela nem olhava pra mãe e ficava só falando comigo sobre a Argentina, hahaha, fiquei com vontade de rir da cena, parecia que ela tinha ficado surda pra mãe.
Finalmente ela deu um pouco de atenção pra mãe e se virou pra falar com ela.
"Agora eu preciso ir embora pra fazer minhas coisas e ele fica aqui e vocês conversam sobre a Argentina", disse dona C.
"Você volta pra buscar ele depois?", perguntou a filha.
"Não, ele sabe ir"
Ain meu deus, essa mulher é muito sem noção, ela vai me deixar só com a filha sem a gente ter assunto depois de 5 minutos de conversa?!
Eu desci do carro, tentando disfarçar meu constrangimento, me despedi, e a kombi foi embora.
Entrei na casa da filha, acompanhada dela. Ela disse que ganou na mega-sena (por um momento pensei que era milhonária), mas foram só 70 reais, e me pediu pra conferir com ela os números.
Nós fomos para a sala e ela me deixou lá sozinho por um tempo. Aí a fome começou a apertar (não tive um café da manhã bom). A casa era muito parecida com a outra da mãe dela, e lá também funcionava a instituição pra surdos. Tinha vários santinhos e me surpreendi ao ver uma foto de Eduardo Campos no alto da parede, onde geralmente se poria um desenho de Jesus Cristo.
Essa pelo menos não acha que esquerdistas são comunistas que comem criancinhas.
Ela me deixou só lá por um bom tempo. O marido dela, que tinha cara de artista, estava pintando letras em uma grande bandeira ou algo, no terraço por onde passamos. O sofá parecia ter sido roído de lado por algum cachorro ou gato, mas não encontrei nenhum à vista.
Depois de um tempo, ela voltou e se sentou na minha frente, numa cadeira.
Depois de uns 2 ou 3 segundos de constrangimento silencioso, ela disse que eu ia ajudá-la a marcar a mega-sena. Disse-lhe os números e depois ela pegou o jornal de novo pra checar se tava tudo certo.
Pra tentar ir embora, eu lhe perguntei pra onde ficava o Plaza. Funcionou. Fomos pra porta e ela começou a me dar as direções das coisas que eu ia perguntando, então eu disse que ia a pé pro Plaza. Nos despedimos (ainda bem) e fui-me embora!

Agora tenho que escrever uma redação pra poder voltar para dona C. Ficamos acordados que, depois da redação ela me ensinaria o alfabeto manual, mas ela é tão antiquada que eu já perdi toda a vontade de aprender LIBRAS.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Caderno Preto de Páginas Amarelas

Desde criança eu sabia que queria ser cientista. Quando as pessoas me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, eu dizia cientista, mas eu tinha impressão que as pessoas riam e achavam que eu achava que ser cientista era inventar mágicas ou coisas assim, aí eu passei a dizer que queria ser médico, soava menos idiota. Mas eu sabia que queria ser cientista.
Com o tempo, eu fui descobrindo que área eu queria fazer em ciência e acabei optando por Biotecnologia. Eu achava que era mara, mas teria que fazer Biologia, porque não encontrava um curso só disso no Brasil, só no exterior. Tinha um ótimo na Inglaterra. Mais tarde eu descobri um em São Paulo, mas aí a história já tinha mudado.
Na sétima série, meu último ano no Apoio (que merda era aquele colégio), a professora de Inglês disse que a gente tinha que fazer um filme, uma adaptação em Inglês. Na época, eu tinha lido um livro gigante chamado Os 100 Melhores Contos de Crime e Mistério da Literatura Universal e me apaixonei por um conto chamado A Pata do Macaco, ou algo assim. Eu adorava literatura policial, era apaixonado por Sherlock Holmes. Esse conto era um máximo, não me lembro o autor.
Quando a professora pediu pra gente fazer o filme, eu pensei nesse conto e já tinha tudo na cabeça de como filmá-o. Até essa época eu não tinha nunca pensado em fazer um filme, mas depois disso fiquei super empolgado.
Não lembro direito o que aconteceu, mas não fiz o filme. Acho que quase ninguém fez, mas me lembro de ter visto um filme terrível de Inglês que algum grupo tinha feito, talvez fosse dessa tarefa ou de outra coisa.
Depois disso eu não conseguia parar de pensar em fazer esse filme, e depois qualquer filme. Com o tempo, filmes foram ficando mais interessantes e tomando um espaço cada vez maior na minha cabeça, ofuscado a ciência, até que eu comecei a ter dúvidas se queria fazer mesmo ciência ou cinema, porque não tinha faculdade de cinema por aqui.
Nesse ano, eu comecei a ler mais sobre filmes e audivisual. Eu lembro que também fizeram um festival de cinema da Revolução Francesa, que eu não participei e nem tinha interesse, sabia que ia ser uma bosta.

Eu sempre fui de ter um monte de idéias de invenções científicas e experiências que nunca dariam muito certo. Como eram muitas, comprei um caderno vermelho simples e anotava lá tudo.
Acho que foi lá pela sétima série que eu abandonei ele.

Vou ao cinema desde pequeno, nem lembro quando. Minha irmã mais velha, Lilian, era apaixonada por cinema. Ela acabou engravidando aos 19 e teve Raphael, meu sobrinho, que já era um ano quando eu nasci (pois é, meu sobrinho é mais velho que eu). Desde que eu me entendo por gente, Lilian e Raphael moravam num apartamento na frente do prédio do meu pai. Ela disse que eu tomava banho frio lá, que não tinha água quente, pra poder ir pro cinema escondido com eles, parece que minha mãe não deixava eu ir.
Eu lembro vagamente de estar com ela no cinema do Shopping Center Recife, quando ele ainda era fora da estrutura de verdade do cinema, num prédio engraçado que parecia um cubo de pontas arredondas, pintado de marrom amarelado escuro. Depois virou uma boate aquilo lá, algo assim.
Quando eu fui ficando mais velho, lembro que ia pro cinema do Center Recife todo final de semana. Acho que naquela época eu ia com o meu sobrinho, nós éramos amigos e vivíamos juntos. Depois passei a ir com a empregada. Lembro quando vi A Liga Extraordinária, com Adriana. Adorei.
Apesar de sempre ir no cinema, nunca tinha parado pra pensar em fazer filmes, isso já é outra coisa. Esse desejo só começou quando eu tava na sétima série.

Da oitava em diante, eu comecei a pesquisar e a ver muitos filmes, mas ainda não sabia o que ia fazer por que os cursos de cinema eram longe e caros e eu não queria depender do meu pai, que é maluco, pra ir fazer uma coisa dessas. Ele nem ia querer pagar.
Acho que foi no meu primeiro ano que começaram a falar sobre abrirem um curso de cinema na Federal, aí eu decidi de vez desistir da ciência, que já tinha deixado há muito de ser aquela coisa divertida e criativa de quando eu não tinha que aprender regras e limitações nas aulas de ciência. Dali em diante eu só via liberdade no cinema e na arte.

Do mesmo modo que as idéias de invenções deixaram de vir, começaram a vir, na oitava série, as minhas idéias sobre cinema. Nessa época, eu também quis muito fazer Francês e entrei no Dis Donc, um curso em Casa Forte. Na sala de aula, tinha uma aluna, que devia ter mais de 30 anos, que tinha um caderno preto de páginas amarelas muito lindo. A capa era dura e forrada com algum material legal, que não era fofo mas tinha uma certa maciez, e as páginas eram amarelas e grossas. Aí eu me apaixonei pelo caderno (gosto de cadernos desde criança) e prourei para comprar um igual.
Encontrei e comecei a escrever nele as minhas idéias de cinema. Na época eu já tinha esquecido o conto de Inglês (que só me lembrei hoje). Eu lembro que quando comprei o caderno tinha 3 idéias só, e não podia esquecê-las. Anotei as 3, mas agora só me lembro duas - que, é claro, não vou contar :D. Uma eu nem gosto mais tanto, outra eu até hoje adoro.

Eu escrevi esse post porque queria registrar a história de como eu comecei a gostar de cinema e porque o meu caderno preto de páginas amarelas já está acabando. Lembro que na oitava série e primeiro ano eu escrevia as idéias constantemente, não conseguia parar de ter idéias. Depois que escrevi quase tudo que eu tinha armazenado na minha cabeça, as idéias foram chegando cada vez menos. Da oitava série para cá, o caderno teve quase todas as páginas escritas, as vezes com idéias de várias páginas, às vezes com idéias de um parágrafo, às vezes com um título que eu acho inspirador.
Acho que ano passado mesmo, nos últimos meses, devo ter escrito pouquíssima coisa. Hoje tenho tantas idéias separadas registradas ali que não tenho nenhuma coragem de catalogar. Raramente eu reli alguma cosia que escrevi. Simplesmente escrevia para não ver nunca mais. Pretendo continuar assim até o dia em que tiver vontade ou necessidade de filmar, aí eu vou rever as idéias para ver o que quero fazer primeiro.
Muitas vezes me perguntam se eu já fiz algum filme ou se eu já tive alguma idéia de filme. Acho que no começo eu respondia que já tive algumas, com uma cara amarela e errada, para tentar desencorajar o interlocutor a perguntar quais - muitas vezes não funcionava. Depois achei melhor a técnica de simplesmente dizer que não: mesmo que pareça mentira, tá claro que não é pra se continuar no assunto.
Acho que vou ter que procurar um substituto para o meu caderno desde já. Comprei um caderninho liiindo na Argentina, pequeno, grosso, pautado, de capa azul royal (minha cor predileta), mas ele é muito pequeno pras minhas idéias. É melhor para quando se está num café em Paris escrevendo algo sobre o dia ou afazeres ou pensamento, bem Capote. Estou longe disso.

Tenho medo do dia em que tiver que organizar as idéias no caderno.




P.S.: Olhando na Internet, descobri o autor do conto, que eu tinha esquecido, é W.W. Jacobs, acho que é inglês.